terça-feira, 13 de setembro de 2011

O que as escolas precisam aprender - Parte 2





Também já não é possível formar cidadãos com uma base comum de conhecimentos. A própria evolução do saber humano torna defasada essa idéia. O mundo de ontem era repleto de fronteiras, estático, separado por áreas. O atual é globalizado, dinâmico e conectado. Isso faz com que seja praticamente impossível prever quais conhecimentos garantirão uma existência tranqüila. É uma época de extrema liberdade - e insegurança. Por isso, os educadores de vanguarda, aqui e no mundo, apontam não para o ensino de um conteúdo salvador, e sim para a ênfase no ensino de um conjunto de habilidades. Muito mais que preparar alguém para um vestibular, essas habilidades formariam uma espécie de caixa de ferramentas básicas para enfrentar o século XXI. Parte do caminho para esse novo ensino tem sido trilhado por algumas escolas, a maioria particular. Nas páginas a seguir, há exemplos de como elas fazem isso.

" A nova escola vem de um movimento
que marcou o século XX: a idéia de que
nossa história é de nossa responsabilidade "
Luciano Mendes, DA UFMG

"A nova escola vem de um movimento que marcou o século XX: a idéia de que nossa história é de nossa responsabilidade. Que só é possível construir uma sociedade igualitária se o sujeito tiver autonomia", afirma Luciano Mendes, do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.


O Brasil teve avanços recentes na educação, com a universalização do ensino básico. Ainda falta estabelecer níveis mínimos de qualidade na rede pública. Isso para chegar ao padrão aceitável do século XIX. Para modernizá-la de verdade, é preciso uma revolução. Um dos responsáveis por pensar essa mudança é o sociólogo espanhol Miguel Arroyo, doutor em educação pela Universidade Stanford e ex-secretário de Educação de Belo Horizonte. Ele coordena o grupo de trabalho montado pelo Ministério da Educação que busca uma revisão nacional da estrutura curricular. "A idéia é acabar com a divisão por disciplinas na formação do professor e criar cursos em grandes áreas do conhecimento", diz Arroyo. Assim, os professores sairiam da faculdade formados em Ciências, e não em Física ou Química, como acontece hoje


Essa reforma seria mais que uma mudança de currículo. Já está se formando um consenso de que a educação terá de abrir mão do excesso de conteúdo das matérias lecionadas. Embora as escolas não sejam obrigadas a seguir uma cartilha, o vestibular determina uma carga para todas as disciplinas. "A escola absorveu uma quantidade enorme de conhecimento. Apesar de ter muito conteúdo, ela ensina pouco", diz Mendes. Ele afirma que, quando a lição não faz sentido para a vida do aluno, ele não a absorve. Assim que entra na faculdade, boa parte dos formandos esquece lições como equações de movimento, divisão celular ou círculo trigonométrico. "Para adaptar o ensino ao mundo de hoje, precisamos de uma formação mais crítica e cultural, que envolva o cinema, o teatro e a vida urbana."


 


Uma das premissas dessa nova escola é a intimidade com a tecnologia. Saber usar computadores, lousas eletrônicas e programas educativos é, hoje, como conhecer o alfabeto. Mas isso não basta. "A tecnologia é uma ferramenta inicial, serve para o aluno pesquisar, entrar em contato com aquilo de que precisa. Depois entram o professor e o trabalho em grupo para ajudá-lo a entender", afirma Vani Kenski, especialista em tecnologia educacional da USP.

"A idéia é acabar com a divisão por disciplinas na formação do professor"
Miguel Arroyo, DOUTOR EM EDUCAÇÃO PELA UNIVERSIDADE STANFORD



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