Para que um texto exista, dois elementos são precípuos: a coesão e a coerência. A coesão é a ligação entre os elementos textuais. No entanto, existem textos que não possuem mecanismos coesivos. Neles, a sequência entre os termos ocorre no nível semântico, ou seja, a ligação entre as palavras e frases é inferida pelo sentido e não pela ligação.
Não se pode denominar de texto o escrito que não possui sentido, mesmo que tenha incontáveis mecanismos de coesão, mas um escrito que possua sentido, malgrado não tenha sequer um elemento coesivo, pode ser chamado de texto. Para exemplificar isso, pode-se pensar em inúmeras poesias que não possuem conectores, mas possuem sentido. O que parece ficar estabelecido com esse conceito é que, sem os ditos elementos coesivos, a compreensão exige uma maior habilidade do leitor em depreender o real significado do texto. Pode-se dizer, então, que esses mecanismos coesivos, de certa forma, facilitam a leitura, ou pelo menos em geral, têm esse objetivo.
Para Ingedore Villaça Koch, em seu livro A coesão textual (1997, p.49), as partes do texto "são interdependentes, sendo cada uma necessária para a compreensão das demais". É tendo por base essa dependência que se pode afirmar que um elemento ou trecho de um texto precisa do outro para significar em sua plenitude. Qualquer frase isolada que se retira de um texto, se analisada separadamente, pode comprometer seu sentido. Esse conceito é importante, pois obriga o leitor a ver o texto como uma conexão, uma rede de elementos ligados entre si e, por conseguinte, dota o leitor de uma maior aptidão para subtrair o máximo de um texto.
Falar de coerência é complexo, pois entram em jogo diversos fatores, que em sua grande maioria não são puramente gramaticais, como ocorre no nível da coesão. Para que um texto tenha coerência, ele precisa ser entendido por um receptor. Esse entendimento, no entanto, demanda, muitas vezes, conhecimento de mundo. Um texto pode até prescindir da coesão, mas a coerência é imprescindível. Os elementos coesivos facilitam a compreensão, facultando inferências, mas o imperativo da comodidade jamais deve acompanhar um bom leitor.
O texto pressupõe usuários, ou seja, é feito por alguém e dirige-se a alguém. Então, ele precisa significar para o destinatário e para o destinador. É exatamente nesse ponto que talvez resida o maior embargo à interpretabilidade e inteligibilidade tão necessárias. Para que um texto signifique para ambos, é necessário que eles compartilhem de determinadas informações, ou seja, possuam informações compartilhadas. Pode-se inferir, assim, que quanto menor o grau de informações compartilhadas entre o destinador e o destinatário, menores a interpretabilidade e inteligibilidade e menor a coerência. Dessa forma, quanto maior nosso conhecimento de mundo, maior será nossa habilidade interpretativa. Muitos fatores podem fazer parte desse impasse interpretativo, como desconhecimento do vocabulário empregado pelo autor, devido ao texto ser muito técnico, ou um completo desconhecimento do assunto abordado pelo texto, entre outros. Esses textos serão incoerentes para alguns leitores, mas não deixarão de ser textos à medida que significam para tantos outros.
É a coerência que faz com que uma sequência de palavras seja um texto. É ela que nos que nos dá textualidade. No entanto, se o conhecimento prévio e compartilhado é preponderante para um texto coerente, pode-se contundentemente afirmar que um texto pode ser coerente para um destinatário e não ser para outro. Imbuídos nessa concepção, não há texto incoerente, mas texto incoerente para determinado destinatário. Pensando assim, são os fatores externos que definem a coerência. Entretanto, existem textos que são incoerentes para todos os leitores, uma vez que a violação do conhecimento de mundo é muito exacerbada, dificultando o seu entendimento, ou até tornando-o inaceitável.
Existem determinados tipos de textos que normalmente apresentam mais elementos coesivos e outros que apresentam menos elementos coesivos. Esse último é o caso, em geral, das letras de música. Normalmente, elas não possuem muitos elementos coesivos, dando-se sua textualidade de outras maneiras, através do conhecimento partilhado ou das metáforas, figura muito utilizada. O leitor deve, portanto, atentar para todos esses fatores a fim de fazer uma leitura profícua do texto.
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