terça-feira, 4 de outubro de 2011

Enem: mesmo fundamentada, opinião polêmica pode zerar redação

                                                    Há menos de um mês do Enem, professor dá dicas para ir bem na redação
Há menos de um mês do Enem, professor dá dicas para ir bem na redação. Foto: Getty ImagesParte fundamental da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a redação tem uma peculiaridade na comparação com outros processos seletivos do ensino superior. Nesta prova, a opinião do candidato sobre o tema proposto também é analisada pelos avaliadores, afirma Mateus Prado, presidente de honra do Instituto Henfil, que oferece curso preparatório voltado exclusivamente para o Enem. E opiniões que destoem daquelas majoritariamente aceitas na sociedade são consideradas inválidas, diz o professor, que indica que o aluno evite choque com o tema indicado.
"O Enem deve elaborar propostas de intervenção ética, então, cuidado com posicionamentos considerados duvidosos como, por exemplo, negar a existência do fenômeno de aquecimento global", alerta.
Prado explica que outros exames, como o vestibular da Fuvest (que seleciona estudantes para a USP), por exemplo, aceitam esse tipo de posicionamento, desde que embasado em argumentos sólidos. "O que a Fuvest quer é que você consiga argumentar. O Enem quer a ética das organizações boazinhas, tipo os órgãos da ONU, como a Unesco", afirma. Contudo, convém lembrar que abordagens discriminatórias, como racismo, homofobia ou xenofobia, são critérios para anulação da prova em qualquer instituição.
Em alguns casos, alerta Prado, se a banca considerar a solução proposta pelo aluno como antiética, a redação pode receber nota zero, mesmo que cumpra com as demais exigências. Assim, além de empregar a norma culta da língua portuguesa e encadear as ideias de forma clara acerca do tema proposto, o estudante precisa ter cautela com posições muito radicais. "Assuntos delicados, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Código Florestal merecem atenção redobrada", recomenda o professor. Sobre esses temas, ele aconselha que o aluno perceba a posição indicada pela prova e mantenha-se favorável a ela para evitar o risco de anulação do texto.
Ser contrário ao ECA e afirmar, por exemplo, que a experiência de trabalhar pode fazer bem a uma criança pode ser uma das opiniões condenadas pela banca, já que os órgãos de proteção aos direitos humanos recomendam que os jovens ingressem mais tarde no mercado de trabalho.
O mesmo pode ocorrer se o candidato defender a extinção das áreas de preservação, previstas no novo Código Florestal, ainda que ele esteja apoiado em bons argumentos. "Como o aluno não tem acesso à correção do texto, é complicado avaliar se esse foi o motivo de anulação", critica o professor, que defende uma forma mais objetiva de correção. "Mais justo seria estabelecer critérios que aos quais o aluno precisasse atender, como saber argumentar. Se ele atingiu, ganha nota máxima nesse item. Se não, não pontua. Com uns 10 critérios assim, a correção seria mais transparente", avalia.
Para evitar a perda de pontos, o aluno deve estudar o edital do exame atentamente, já que o texto dá pistas sobre o que se espera dos candidatos. "Os temas de redação saem invariavelmente da matriz de referência das áreas cobradas, bem como o enfoque exigido", diz Prado. Destaque para as competências e habilidades testadas nas provas de Ciências da Natureza e Ciências Humanas e suas Tecnologias. É, em geral, destes itens que surgem os temas da redação do Enem.
Contatada pela reportagem, a assessoria do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela elaboração do exame, afirmou que todas as respostas sobre a prova constam no edital. No entanto, quem procurar o texto não encontrará qualquer menção à anulação da prova de redação por conduta antiética, apenas por fuga ao tema, número insuficiente de linhas, não atendimento ao tipo textual ou apresentação de impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação.

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