sexta-feira, 26 de agosto de 2011

ADOLESCENTES GRÁVIDAS: OS DESAFIOS E AS PERSPECTIVAS NO CONTEXTO ESCOLAR

A adolescência é uma etapa importante da vida na qual o indivíduo se encontra em uma fase de transição entre a infância e a idade adulta. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o período da adolescência é compreendido entre 10 e 19 anos e se refere a um período de mudanças físicas e emocionais, momento de conflitos e crises, decorrentes de mudanças bio-psico-sociais.
É um período marcado por descobertas, sonhos, incertezas, projetos e alterações tanto no corpo quanto na mente; uma fase complexa e, se neste contexto surge uma gravidez, esta implicará desafios os quais a adolescente terá que enfrentar na tentativa de aprender a lidar consigo mesma neste momento difícil da vida e com sua família, amigos e colegas de escola e com a própria escola enquanto local onde, muitas vezes, estão depositadas todas as esperanças de alcance de um futuro melhor. Segundo Bueno (2003) apud Corrêa (2009, p. 19),
a adolescência implica num período de mudanças físicas e emocionais considerado, por alguns, um momento de conflito ou de crise. Não podemos descrever a adolescência como simples adaptação às transformações corporais, mas como um importante período no ciclo existencial da pessoa, uma tomada de posição social, familiar, sexual e entre o grupo. A puberdade, que marca o início da vida reprodutiva da mulher, é caracterizada pelas mudanças fisiológicas corporais e psicológicas da adolescência. Uma gravidez na adolescência provocaria mudanças maiores ainda na transformação que já vinha ocorrendo de forma natural.
Assim, a gravidez na adolescência constitui-se um problema de relevância social que precisa ser tratado também no âmbito escolar de modo que, através da informação e de uma educação sexual correta, se possa minimizar os altos índices de sua ocorrência. No entanto, se a gravidez precoce acontece é preciso que se acolha a menina, oferecendo-lhe subsídios para que ela possa encarar a gravidez e compreender as mudanças que acontecem durante esse período.
Neste sentido, a escola tem um papel fundamental para enfrentar esta questão e para contribuir na educação dos adolescentes, pois é aí que eles passam parte significativa do seu dia; nela estabelecem relações afetivas, constroem amizades, aprendem a conviver com pessoas diferentes e constroem conhecimentos. Desse modo, a escola tem também a função de atuar no sentido de orientar aos alunos acerca de sua sexualidade na tentativa de evitar a ocorrência de gravidez na adolescência e quando esta ocorre, ela precisa estar preparada para acolher as futuras mães de forma que elas não se sintam rejeitadas, humilhadas, diferentes das demais e nem abandonem os estudos.

A escola é um lócus relevante para abordar a sexualidade. Os professores devem orientar os alunos, mas para isso é preciso que eles também estejam preparados para esclarecer as dúvidas relativas à questão. De acordo com Teles (1992, p.51),
os professores encarregados de educação sexual na escola devem ter autenticidade, empatia e respeito. Se o lar está falhando neste campo, cabe à escola preencher lacunas de informações, erradicar preconceitos e possibilitar as discussões das emoções e valores.
O espaço escolar deve propiciar aos alunos mais do que a aquisição de conhecimentos constantes em sua matriz curricular, mas deve promover a formação humana de seus estudantes e esta perpassa pelo âmbito da sexualidade, muitas vezes pouco ou nada abordada no contexto familiar.
Neste sentido, é necessário que ações sejam planejadas, no ambiente escolar, na intenção de minimizar os índices de gravidez na adolescência. O ideal seria que família e escola juntas atuassem no sentido de oferecer orientação sexual aos adolescentes, contudo nem sempre a família cumpre essa função legando à escola o encargo de promover uma educação sexual adequada. Muitas vezes a escola também falha por causa do despreparo docente para tratar as questões sexuais, pelos preconceitos e tabus que ainda existem no tocante ao sexo ou até mesmo pelo fato de alguns docentes não reconhecerem como sua atribuição proporcionar aos alunos as orientações e informações necessárias acerca da sexualidade.
Mal informados e muitas vezes sem ter ninguém que os oriente a respeito do sexo, muitos adolescentes iniciam sua vida sexual por força de seus instintos, sem precaução alguma para evitar a contração de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) ou a ocorrência de gravidez, elevando as estatísticas que comprovam que "no Brasil, a cada ano, cerca de 20% das crianças que nascem são filhos de adolescentes" (BUENO apud CORRÊA, 2009, p.24). De acordo com a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher,
acentua-se um rejuvenescimento do processo reprodutivo. A fecundidade das mulheres mais jovens (15 a 19 anos) passou a representar 23% da taxa total, em 2006, em contraste com 17% em 1996 (...). Entre as jovens de 15 a 19 anos, 23% estavam grávidas no momento da pesquisa e 12% já estiveram grávidas, mas não tiveram filhos nascidos vivos (PNDS-2006, p.34).
A organização curricular do sistema educacional brasileiro deixa para a sociedade a expectativa de que todos os jovens concluam o ensino médio até os 18 anos; porém, é grande o número de adolescentes que engravidam e abandonam a escola devido às dificuldades para estudar, cuidar do filho e, muitas vezes, trabalhar para sustentar a criança sozinha, sem o apoio do parceiro que, na maioria das vezes, também é adolescente e demonstra dificuldade para assumir suas obrigações paternas.
A gravidez na adolescência é uma das principais causas de evasão escolar, assim, faz-se necessário que sejam tomadas providências para o enfrentamento dessa questão para diminuição dos índices de evasão escolar, pois com ela vêm à tona várias outras conseqüências.
Quando uma adolescente abandona a escola está perdendo oportunidades de trabalho, pois, o mercado está cada vez mais exigente e competitivo e, nesse caso, a adolescente terá menos condições para competir com outros profissionais mais qualificados por terem continuado a estudar. Conseqüentemente, a jovem acaba se vendo obrigada a se submeter a trabalhos subalternos, sem registro em carteira e, desse modo, sua situação piora cada vez mais.

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